E se fez um silêncio. Mas não qualquer um, um enlouquecedor.
E agora já era noite. O dia passou em um
minuto e a noite chegou sem nem avisar. Mas a menina continuava lá, intacta
desde o nascer do sol, no mesmo canto, em silêncio, só ouvindo seus
pensamentos. Que não era pouca coisa. O ambiente estava silencioso, mas dentro
de sua cabeça, parecia mais é uma grande guerra, de tanto grito e indecisão.
Mas após 10 horas paralisada, a garota se levanta em um ímpeto,
abre a gaveta da escrivaninha, pega um bloco de papel e um lápis, volta no
mesmo canto, e se senta. Com a luz do luar batendo com seu colo, iluminando o
bloco de folhas, ela começa a colocar seus pensamentos no papel;
“Garota, deixe-me ser sincera. Eu sou fria, eu sou grossa, sou
fraca, sou idiota, mas acima de tudo sou irônica. A lista é grande, sei que é,
mas eu tenho consciência de cada item dela. E no passar dos anos, eu mudei,
sim! Fiquei mais fria, graças aos filhos da putas que massacraram meu coração,
mas eu continuo a mesma garota idiota e grossa de sempre. Mas você, bom você
mudou. Não digo para mal nem para bem, apenas mudou. E bom, se você não quer aceitar o óbvio vindo
da minha boca, não tem problema. Pergunte para as outras garotas que talvez a
conhecem a mais tempo que eu. Elas dirão o mesmo, de maneiras diferentes, mas
irão concordar comigo, sei disso. Eu não quero brigar, não mesmo nunca quis!
Mas eu acho que eu, ao dizer tanta verdade na sua cara de uma vez só, você não
quis enxergar, e preferiu me ferir ao me escutar. Não tem problema, vendo desse
ponto de vista eu entendo. Mas não posso ignorar ao fato que machucou. Você é
minha amiga, e eu acho que já demonstrei o quanto a amo e me importo com você.
E esse voto de silêncio? Pode-se dizer que não foi a melhor solução, porque
sinto a sua falta, e o pior é que estamos machucando outra grande amiga nossa.
Talvez seja muita informação para um dia só, então fique com
a carta, e relei-a várias vezes, absorvendo os conselhos, críticas (não sei
exatamente o que é isso) um pouco a cada dia. Porque sinceramente do mesmo
jeito que nossa amiga espera, eu também espero que um dia isso seja apenas mais
uma página virada no meu livro. E que daqui alguns anos, a gente irá rir ou se
desculpar da besteira que falamos. Talvez, eu ainda não tenho o dom de prever o
futuro.”
E após passar algum tempo escrevendo, uma carta. A garota
deixa de lado o bloco e deita-se no chão.
13.05.12